quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ingres

Jean Auguste Dominique Ingres, aos 11 anos frequentava a escola de arte e aos 17  fazia parte do ateliê de David. O jovem discípulo nunca deixou que suas pinceladas aparecessem, dizendo que a tinta tinha que ser lisa como a “casca da cebola”. Ingres, porém foi além do mestre na devoção aos antigos. Na obra inicial, usou as pinturas de vasos gregos como modelo e desenhou figuras planas, lineares, que os críticos condenaram como sendo “primitivas” e “góticas”.

Então apareceram em cena Delacroix e Géricault campeões da emoção e da cor, em vez de intelecto e perícia no desenho como base da arte. Contra o “barbarismo” desses “destruidores” da arte. Ingres se tornou o porta-voz da ala conservadora, advogando a antiga virtude da qualidade técnica. “O desenho é a probidade da arte”, era seu manifesto. Ele pedia cuidado contra o uso de cores fortes, quentes, para se obter impacto visual, dizendo que eram “anti-históricas”.

A disputa acabou virando xingamento, com Ingres rotulando Rubens, o herói dos românticos, de “aquele açougueiro flamengo”. Ele considerava Delacroix o “diabo encarnado”. Uma vez, quando Delacroix saiu do Salon, depois de pendurar uma pintura, Ingres comentou: “Abram as janelas, está cheirando a enxofre.”. Por sua vez, os românticos chamavam as pinturas de Ingres e sua escola de “desenhos coloridos”.

Ironicamente esse arqueiro defensor da fé neoclássica às vezes se desviava dos princípios de sua devoção. É verdade: Ingres era desenhista impecável, cuja linha intrincada influenciou Picasso, Matisse e Degas. Mas os nus femininos de Ingres estavam longe do ideal grego ou do Renascimento.

Ingres era atraído por exóticos, eróticos como a menina do harém, em “Odalisca”. Os críticos atacaram a pintura pela cabeça pequena e o traseiro anormalmente longo. “Ela tem vértebras a mais”, disse um deles. “Não tem osso, não tem músculo, não tem vida”, disse outro. Sem dúvida, Ingres alongou os membros para aumentar sua elegância sensual.

A Grande Odalisca, Ingres, 1814 “Odalisca”, Ingres, 1814

Ingres pregava a lógica, no entanto, o poeta romântico Baudelaire notou que os melhores trabalhos de Ingres eram “produto de uma natureza profundamente sensual”. De fato, Ingres era mestre em nus femininos. Ao longo de toda sua carreira pintou banhistas, dando à beleza  de porcelana de sua carne um estilo mais suave que o de David.

Carol Strickland. Arte Comentada. Da Pré-História ao Pós-Moderno.

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2 comentários:

Antenor Thomé disse...

Muito bom seu blog.
Sou um apaixonado por história da arte.

Um abraço

Susi disse...

Olá, muito obrigado, fico feliz que tenha gostado, Estou apenas começando. Seja sempre bem vindo!