O projeto mais ambicioso de Rubens foi a sequência de quadros retratando a vida de Marie de Médici, da França, uma rainha tola e cheia de caprichos, lembrada principalmente por esbanjar grandes somas de dinheiro, pelas brigas incessantes com seu marido (ela reinou temporariamente depois que ele foi assassinado) e por contratar Rubens para decorar duas galerias com pinturas comemorando seus feitos “heróicos”.
“Meu talento é tal”, escreveu Rubens “que nenhuma tarefa, por maior que seja em tamanho… jamais superou a minha coragem.” Coerente com sua bravata, ele concluiu esses 21 óleos de grande porte em apenas três anos, praticamente sem ajuda de assistentes. Ainda mais difícil deve ter sido criar gloriosas cenas épicas, dada a matéria-prima. Também nessa empreitada o tato de Rubens mostrou-se à altura da tarefa. Retratou Marie dando à luz seu filho, como uma solene cena de natividade. Seu painel sobre a educação de Marie apresenta deidades como Minerva e Apolo ensinando-lhe música e eloquência.
Em “Marie Chega a Marselha”, a deusa da Fama anuncia com trombetas douradas o desembarque da rainha na França. Diplomaticamente, Rubens omitiu o queixo duplo de Marie (apesar de, em cenas posteriores, retratar sua majestosa corpulência) e se concentrou em três voluptuosas enviadas de Netuno em primeiro plano. Chegando a pintar deliciosas gotas de água nas amplas nádegas dessas ninfas.
“Marie Chega a Marselha”, Rubens 1622-1625. Louvre, Paris
Rubens compartilhou a tendência ao excesso típica da época barroca, presente nas cores exuberantes, na riqueza dos trajes, nos detalhes dourados. Aplicava o mesmo vigor à sua vida e ao seu trabalho. Qualquer que fosse o tema, Rubens imprimia à pintura um clima de triunfo e dizia: “O importante não é viver muito, mas viver bem!”
Carol Stickland. Arte Comentada, Da Pré-História ao Pós-Moderno