Uns vinhedos sobre o fundo azul – foi o que o Papa Júlio II pediu para embelezar o teto da Capela Sistina, que mais parecia o de um celeiro. E o artista lhe deu mais de 340 figuras representando a origem e a queda do homem, no empreendimento artístico mais ambicioso da Renascença. O fato de Michelangelo ter realizado tal proeza em menos de quatro anos, sem assistentes, é testemunha de sua singularidade.
Apenas as condições físicas apresentavam um formidável desafio. Com o comprometimento de quase metade de um campo de futebol, o teto apresentava três mil metros quadrados para projeto, esboço, alvenaria e pintura. As infiltrãções umedeciam demais a alvanaria. A curva da abóbada cilíndrica atravessada por abóbadas cruzadas, dificultava ainda mais o trabalho de Michelangelo. Como se não bastasse, ele tinha que trabalhar encolhido numa posição desconfortável, num andaime com altura equivalente a sete andares.
Criação de Adão, Michelangelo – Capela Sistina, Vaticano, Roma
Um Deus com aparência de Zeus transmite a chama da vida a Adão.Michelangelo usou o nu masculino para expressar todas as aspirações e emoções humanas.
Apesar de seu desdém pela pintura, que ele considerava uma arte inferior, o afresco de Michelangelo atingiu um ponto máximo, com figuras retiradas não do mundo real, mas do mundo de sua própria criação. Os nus, jamais pintados em escala tão colossal, são simplesmente apresentados, sem cenário e sem ornamentos. Assim como em sua escultura, os torsos são mais expressivos que os rostos. As formas nuas, contorcidas, têm uma qualidade de relevo, como se tivessem sido esculpidas em pedra colorida.
“O Juízo Final, Michelangelo, Capela Sistina, Vaticano, Roma (1541)
Detalhe: de “Juízo Final”, Michelangelo, Capela Sistina, Vaticano. São Bartolomeu, mártir queimado vivo, segura sua própria pele com um grotesco auto-retrato de Michelangelo.
Tomando uma parede inteira da Capela Sistina, o afresco “O Juízo Final”, de Michelangelo, foi terminado 29 anos após a pintura do teto. A pintura impressiona pela atmosfera sinistra. Cristo não é representado como um Redentor misericordioso, mas como um Juíz vingativo, alcançando um efeito tão aterrorizante que o Papa Paulo III caiu de joelhos diante do afresco, gritando: “Senhor perdoai os meus pecados!” Aqui também Michelangelo mostrou sua habilidade suprema para apresentar formas humanas em movimento: quase quatrocentas figuras contorcidas em luta, em resistência, sendo atiradas ao inferno.
Carol Strickland. Arte Comentada. Da Pré-História ao Pós-Moderno.
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