A contribuição de Frans Hals (1580-1666) para a arte foi sua habilidade para captar a expressão passageira. Seus quadros podiam retratar músicos, ciganos ou cidadãos respeitáveis, mas todos eram trazidos à vida, geralmente rindo e levantando uma caneca. Sua marca registrada são os retratos de homens e mulheres apanhados num momento de alegre diversão.
O quadro mais famoso de Hals. “O Cavaleiro Sorridente”, retrata um tipo matreiro com um sorriso nos lábios, brilho nos olhos e bigode airosamente curvado para cima. Hals obteve esse ar de gabolice principalmente com o efeito das pinceladas. Antes dele, os realistas holandeses se orgulhavam de disfarçar as pinceladas para esconder o processo de pintura, aumentando assim o realismo do quadro. A “assinatura” de Hals eram golpes do pincel, fortes, à maneira de esboço.
“O Cavaleiro Sorridente”, Frans Hals, 1624
Em sua técnica alla prima, que significa “de imediato” em italiano, o artista aplica a tinta diretamente na tela, sem uma camada de preparação, e termina o quadro com essa única aplicação de tinta. Embora as pinceladas de Hals sejam claramente visíveis de perto, assim como nas telas de Rubens e Velázquez, formam imagens coerentes à distância e captam com perfeição o imediatismo do momento. Ele captou seu “Alegre Beberrão” congelando um momento de vida, os lábios separados como se prestes a falar, a mão no meio de um gesto.
“O Alegre Beberrão”, Frans Hals, 1627
Hals transformou a rígida convenção do retrato de grupo. Em seu “Banquete dos Oficiais da Companhia de Guarda São Jorge”, o artista não retrata os componentes da milícia como guerreiros, mas como festeiros num alegre banquete. Antes dele, a tradição mandava que os artistas pintassem os membros do grupo como numa foto da classe, dispostos como efígies em fileiras bem demarcadas, Hals sentou-os em poses relaxadas em volta de uma mesa, interagindo naturalmente, com cada expressão facial individualizada.
“Banquete dos Oficiais da Companhia de São Jorge”, Frans Hals
Embora a cena pareça improvisada, a composição tem um equilíbrio de poses e gestos, unidos pelo vermelho, pelo branco e pelo preto. As diagonais barrocas de estandartes, faixas e golas pregueadas reforçam a sensação de orgulho da farra de jovens.
Os retratos sociais, alegres, das décadas de 1620 e 30, revelam o talento de Hals para avivar, e não preservar, o modelo. Infelizmente, seu final de vida foi triste. Embora retratista famoso, o amor ao vinho e à cerveja mostrado em seus quadros transbordou para sua vida pessoal. Com dez filhos e uma segunda mulher brigona sempre com problemas com a polícia, Hals “enchia a cara” toda noite, segundo um amigo seu, e morreu de ostracismo.
Carol Stickland. Arte Comentada, Da Pré-História ao Pós-Moderno.
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